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Nasci em 1964. Ouvi tanta merda desde então, à direita à esquerda, que estrumaram minha deserção. Escutei de tudo. Um coral de certezas ocas, um latido de opiniões adubando o chão onde eu nãoqueria pisar. Deram estrume. Eu devolvi corpo. Eu brotei — torta, teimosa, inteira. Então fiz da roupa um território. Posso, sim, vestir a pele que inventei, a estampa que ruge, que arranha, que desafia qualquer plateia. Nada de floral obediente, floral que pede licença, floral que aceita o jarro onde foi colocado. Eu? Eu sou outra coisa. Sou corpo que estala, sou passo que não se enquadra, sou padrão selvagem em pleno asfalto cinza. Nasci em 64, sim. Mas cresci para fora do tempo. E hoje, quando visto minha pele, não é moda, é manifesto.