Ela está com um sorriso meio bobo e ingênuo de quem já está a par das sutilezas mundanas e da vida que tinha. Resta a enorme abismo da ironia. Cada um dos coadjuvantes da demência anda à deriva catando cacos de si e dela. Do que nem foi e agora não pode mais ter sido. A que vive verá uma parte de cada uma que se está vivendo. O que há de bom nisso tudo? Eu não sei e soubesse faria que faço, com o saber o sabor. Vida fora. Vida de dentro que come e expele. Mantém sinais vitais estáveis. Corpo que deixa de doer na ignorância da proteção. A demência há de separar o corpo da dor-de-mundo. Minha mãe (nossas mães!) sem manual de uso, como a criança em cada um dos nós. Paciência e sorrisos. Nascer do pôr do sol. A vida é inocente e infinitamente finita como as estrelas e os espaços que nos habitam.