Ao ver a foto da minha mãe com o cabelo curto, tive uma boa surpresa. Ela parecia mais viva. Acho que o cabelo liso e comprido a deixava com um ar mais envelhecido. Existe uma tendência, talvez eu esteja enganado, de mulheres mais velhas optarem por pintar o cabelo de loiro ou cortá-lo mais curto. Imagino que cada escolha carregue consigo uma forma de vaidade.
Ao observar atentamente a foto dela, agora com 75 anos, fui levado a outra imagem — uma antiga foto de identidade, provavelmente perdida em alguma gaveta ou esquecida pelo tempo. Nela, minha mãe também usava o cabelo curto, num corte conhecido como “Joãozinho”. Um estilo que, além de datado, pode ser considerado controverso. Mesmo assim, aquela imagem de juventude contrasta fortemente com essa nova fotografia dela, já envelhecida.
É estranho — por mais esperado que seja — ver a própria mãe envelhecer. Não é que isso fosse uma surpresa, mas o envelhecimento dela revela não apenas a passagem do tempo, e sim os efeitos concretos da mudança. Nada de novo em saber da finitude, da fragilidade e da fugacidade da vida. Ainda assim, ver minha mãe de cabelos curtos foi como um lembrete: o tempo passa num estalo de dedos.
Fico me perguntando o que a levou a cortar o cabelo naquela época. Provavelmente nunca saberei. Mas, de algum modo, essa nova foto carrega consigo um sinal claro de que as mudanças continuam acontecendo.