20 de julho de 2025(…)
Quantos detalhes foram diminutos depois que você me abandonou? Depois de um tempo longe de você, vieram pensamentos do tipo: “acho que estou voltando a ser eu. Por onde andei nos últimos anos?” Nem me reconheço quando olho para trás e me surpreendo com o que já fiz. Depois daquele dia, passei alguns meses sem querer falar, nem sentir nada, porque nem sabia o que andava sentindo. Naquela época não queria revirar nada para me organizar. Como é possível você ter ido embora? Ou melhor, porque eu fiquei sofrendo por você? Na distância do tempo, os pensamentos acalmam os sentimentos. Eu nem sabia que eu era capaz de viver como a minha mãe. Não sei explicar, fiz grande esforço para escolher os caminhos diferentes dela, mas agora cada passo parece que caminho na direção do que ela era. Ela também me abandonou. Mas ela me ensinou a perder. A desapegar dos medos. Por isso, ainda não entendo como posso ter ficado tão adoecida com o abandono dele. Vivi em uma caverna cheia de labirintos. Um minúsculo corpo em uma enorme casa, numa cidade que não me amparava. Pelo contrário, sufocava e confundia os meus sentidos. Morar naquela cidade do interior era um projeto dele. Fui tola em considerar que nós iríamos ser felizes lá. É coisa absurda pensar amor e liberdade quando se está fundido. Éramos tão íntimos que tínhamos nosso próprio vocabulário. Paródias e manias que só nós poderíamos compreender. Pequenas excentricidades bobas e alegres. O que será que aconteceu para ele querer ir embora? Qual foi o momento que tomou essa decisão? Será que já pensava sobre o assunto mas deixou o tempo passar para refletir? E antes de tomar a iniciativa de encerrar nossa vida como casal, dormia ao meu lado sentido que não queria mais estar comigo? Será que fiquei com ele pois tinha medo de ficar sozinha? Não me sentia presa. Em alguns instantes nem percebia que estava morando naquela cidade, que vivia longe da minha mãe.
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