Nas águas do rio Letes


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Texto por
Severo Garcia
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Severo Garcia

Falei com ela agora. Baton nos lábios. Bem alegre. Interagia animada com a Catarina. Dizia: “abana pra vovó”, “manda beijo!” – tudo num tom ritmado, quase musical. Algo instintivo.

Em contraste, eu assistia à cena em um silêncio triste. Quero acreditar: “ela está imune”. Eu estou como todos não dementes, doendo.

Semana passada, terminei de ler o purgatório, na Divina Comédia, de Dante Alighieri. Perto de reencontrar sua amada Beatriz, Dante bebe das água do Letes – o rio do esquecimento.

Duas forças se cruzam em mim, minha mãe e minha filha. Algo mergulha no afogamento, algo floresce no agora.

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